Existem muitos conceitos e
interpretações do que é considerado leitura. Martins (1994) em seu livro
O que é leitura apresenta algumas concepções de leitura utilizadas e
suas mais variadas formas, incluindo as condições para que ela possa
de fato acontecer.
A primeira concepção apresenta a leitura restrita à “decodificação
mecânica de signos linguísticos.” (MARTINS, 1994, p.31). Já a segunda
concepção de leitura, a apresenta “como um processo de compreensão
abrangente, cuja dinâmica envolve componentes sensoriais, emocionais,
intelectuais, fisiológicos, neurológicos, bem como culturais, econômicos
e políticos”. (MARTINS, 1994, p. 31). Assim entendida, a leitura se
caracteriza pela construção de sentidos pelo leitor, o que envolve seu
conhecimento de mundo, ou como dizia Paulo Freire (1981, p.8), “a
leitura do mundo”. Esta, por sua vez é influenciada também pelo contexto
socioeconômico e histórico do leitor. Em cada época e em cada posição
social o mundo é lido de forma diferente, por isso a variedade de
sentidos produzidos em cada leitura. É esta concepção de leitura que
fundamenta esta produção didático-pedagógica.
Martins (1994)
também esclarece que a leitura envolve três dimensões no leitor: a
sensorial, a emocional e a racional. A leitura que é realizada no plano
sensorial, é captada a partir dos sentidos elementares (visão, audição,
olfato, tato e paladar). Por meio dela, o leitor lê o mundo que o cerca,
em suas cores, formas, texturas, sons, odores e gostos. A leitura
sensorial está em cada relação do sujeito com o mundo físico que o
rodeia. Mesmo que os sujeitos envolvidos não se deem conta de que estão
lendo, a leitura sensorial é a primeira forma de leitura que se faz
ainda quando criança e que acompanha o sujeito ao longo da vida,
contribuindo com o desenvolvimento da linguagem, enquanto “capacidade de
comunicação com o mundo.” (MARTINS, 1994, p.43).
Já no campo das emoções, a leitura provoca sentimentos, envolvendo a subjetividade, sem controle racional do indivíduo.
Na
leitura emocional emerge a empatia, tendência de sentir o que se
sentiria caso estivéssemos na situação e circunstâncias experimentadas
por outro [...]. caracteriza-se, pois, um processo de participação
afetiva numa realidade alheia, fora de nós. (MARTINS,1994, p. 51-52).
Nesse
tipo de leitura o mais relevante é o que o texto provoca no leitor, o
texto é um acontecimento para o leitor. Sua importância ultrapassa o
âmbito individual, pois atua nas relações com o outro, sendo orientada
pelo universo social além do inconsciente individual. A leitura
emocional “revela a predisposição do leitor de entregar-se ao universo
apresentado no texto, desligando-se das circunstâncias concretas e
imediatas.” (MARTINS, 1994, p.58).
Por caracterizar-se pela evasão da realidade vivida, a autora comenta que
esse
tipo de leitura sofre críticas por tornar o leitor vulnerável às
representações e visões de mundo presentes no texto lido. Porém,
adverte que a aparente fuga da realidade pode ser encarada como uma
espécie de fuga para a liberdade, o que instiga, com relação a esta
leitura, uma reflexão mais aprofundada. Após o ato da leitura, o leitor
pode refletir acerca do lido e estabelecer relações entre seu mundo e o
texto.
Por fim, Martins (1994) apresenta a leitura racional como aquela que
[...]
acrescenta à leitura sensorial e à emocional o fato de estabelecer uma
ponte entre o leitor e o conhecimento, a reflexão, a reordenação do
mundo objetivo, possibilitando-lhe, no ato de ler, dar sentido ao texto e
questionar tanto a própria individualidade como o universo das
relações. E ela não é importante por ser racional, mas por aquilo que o
seu processo permite, alargando os horizontes de expectativas do leitor e
ampliando as possibilidades de leitura do texto e da própria realidade
social. (MARTINS, 1994, p.66).
A leitura literária
engloba os três tipos de leituras analisados por Martins (1994). O texto
literário envolve o leitor, produz nele os efeitos mais variados,
passando por seus sentidos, suas emoções e seu raciocínio, muitas vezes
misturando as três dimensões num mesmo ato de ler, ou passando de uma
para outra dimensão no decorrer da leitura, dependendo do tipo de texto
que se lhe apresenta.
Magnani (2001) também aborda sobre
concepção de leitura, definindo leitura como algo que vai além da
decodificação de sinais, pois engloba “a compreensão do signo
linguístico enquanto fenômeno social. Significa o encontro de um leitor
com um escrito que foi oficializado [...] como texto (e como literário)
em determinada situação histórica e social.” (MAGNANI, 2001, p. 49).
Assim,
a leitura não se refere ou se restringe apenas ao escrito, sempre
ultrapassando o plano da palavra para criar sentidos na vida de quem lê.
Por isso, a leitura envolve a compreensão dos signos linguísticos em
seus aspectos sociais, na relação de um indivíduo com outro, nunca como
um ato individual e isolado do contexto social e histórico.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez Editores, 1981.
MAGNANI, Maria do Rosário Mortatti. Leitura, Literatura e escola. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. 19.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.